quinta-feira, 13 de agosto de 2015

É Pavê ou "Pá beber"? - Pavê de Caipirinha

Recentemente desafiamos a Srta. Jaida Martinelli, criadora do perfil @ACervejeira no Instagram, a desenvolver uma receita de Pavê que tivesse a cachaça como um dos principais ingredientes.
O Resultado foi o Pavê de Caipirinha, uma sobremesa que, além de quebrar paradigmas no universo dos ditados infames, ficou deliciosa.

Segue a artimanha do pospasto:

Ingredientes:
1 lata de creme de leite
2 latas de leite condensado
4 colheres de sopa de leite ninho
2 envelopes de gelatina sem sabor
2 limões
Pacote bolacha de champagne
100 ml de cachaça +ou-

Bata no liquidificador;
1 lata de creme de leite
1 lata de leite condensado
4 colheres de sopa de leite ninho
1 pacote de gelatina sem sabor ( já diluído em aproximadamente 50ml de água morna)
- depois de batido acrescente a cachaça aos poucos. (vá provando para que fique agradável ao seu paladar) e bata novamente.

Na forma, disponha as bolachas de champagne e despeje o creme. Leve à geladeira para endurecer um pouco enquanto prepara a segunda camada.


Retire as raspas dos limões e reserve. Muito cuidado para não retirar as partes brancas pois elas trarão um amargor desagradável. 

Em um recipiente misture;
-1 lata de leite condensado 
-suco de 2 limões 
-1/2 envelope de gelatina sem sabor, previamente diluído em água morna.
-cachaça (adicione aos poucos, vá provando)
-Raspas de limão 

Retire a forma da geladeira, monte a segunda camada de bolachas de champagne e acrescente o creme de limão.
Leve à geladeira para endurecer por no mínimo 5 horas.
Decore com raspas de limão!


Dica: Se não for desenformar o doce, não precisa acrescentar o 1/2 pacote de gelatina sem sabor no creme de limão.

Nota da redação: Se comer Pavê, não dirija.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

Curso de Leveduras Cervejeiras e Fermentação - Dr.Yeast - Acerva SP

Por Zé Figueiredo

Domingo próximo passado foi finalizado o Curso de Leveduras Cervejeiras e

Fermentação ministrado por Carlos Henrique Pessôa de Menezes e Silva, Farmacêutico-

Bioquímico, Especialista, Mestre e Doutor em Microbiologia. Carlos também é um 

cervejeiro caseiro premiado.


Neste curso voltado para a fermentação cervejeira que teve o patrocínio da Acerva 

Paulista e Dr Yeast Leveduras Especiais e realizado nas dependências do Almada's Beer 

Store, foram vistos os seguintes tópicos: Introdução a micologia, leveduras cervejeiras, 

características físico-químicas do mosto cervejeiro, bioquímica da fermentação, flavours 

& off-flavours, starter de leveduras e propagação, problemas químicos e biológicos 

durante a fermentação e maturação, limpeza, sanitização, desinfecção, antissepsia e 

esterilização, envase e carbonatação, finalizando com aula prática laboratorial. 

Naturalmente Carlos Henrique extrapolou os já numerosos tópicos indo além do 

prometido com literatura estrangeira, tirando dúvidas com seu conhecimento pessoal 

científico e prático, oferecendo ainda dicas únicas a todos os cervejeiros presentes.

Carlos é uma fera da área da microbiologia, sendo pioneiro no Brasil com a empresa Dr 


Yeast, onde fornece além de outros produtos, leveduras na forma de cultura para a 

produção de cerveja, embalados de forma segura e prática para suportar o clima e o 

tempo de entrega dos Correios brasileiros.


Importante dizer ainda que o convívio com os colegas cervejeiros de várias cidades, 

além de São Paulo, nestas 40 horas, foram de grande auxílio para o conhecimento e 

aprimoramento do prazer em comum que é fazer cerveja

Como os Bravos Brassadores Bêbados têm como ideal fazer uma boa cerveja, ideal este 

que é compartilhado pelos cervejeiros do mundo inteiro, também participaram desta 

jornada de aprendizado e foram gratificados pelo conhecimento, amizade e carinho dos 

amigos, amigos da boa Breja.


segunda-feira, 25 de maio de 2015

Cerveja dos Brassadores leva Medalha de Prata em Evento de Confraria Mineira

No que diz respeito a cerveja, esse foi um final de semana e tanto para os Brassadores. Parte da equipe iniciava a 3ª Jornada Cervejeira na Cervejaria Invicta e parte estava em São Paulo no primeiro final de semana do curso de Fermentação da Acerva Paulista em parceria com a Dr.Yeast. Enquanto isso rolava o 16º Encontro da Confraria Cervejeira de Poços de Caldas - MG.

Não podíamos revelar antes em virtude das regras do evento, mas havíamos sido convidados para participar com uma cerveja, e a "Lulupulada", nossa American Pale Ale, foi a selecionada. O evento, que aconteceu nessa sexta feira, dia 22 de maio, contou com 51 participantes entre harmonizadores e degustadores e consistiu em  uma degustação às cegas  onde participaram tanto cervejas que estão nas prateleiras das lojas como cervejas artesanais caseiras produzidas por homebrewers

As cervejas foram servidas

sem qualquer identificação ou informação e a cada rodada o degustador deveria preencher uma ficha com perguntas sobre a cerveja que estava bebendo, bem como deveria dar uma nota para ela. Nas perguntas os participantes deveriam descobrir características das cervejas como estilo e teor alcoólico. Uma excelente ideia da Confraria, dessa maneira, além de proporcionar uma saudável competição entre os cervejeiros, estimula seus membros a se treinarem e prestarem atenção nas características das cervejas que bebem, o que é fundamental para que se possa aproveitar completamente a experiência de degustar uma cerveja especial. 

O resultado saiu no domingo e ficamos orgulhosos em saber que além de ter sido uma das preferidas da noite e recebido elogios de todos os participantes, nossa APA levou a Medalha de Prata por uma diferença de apenas 0,03 pontos da primeira colocada, a cerveja Monja Hells Old Rotten Gate, uma excelente Baltic Porter local da micro-cervejaria Monja

Além disso, a colocação geral mostra como nossos homebrewers estão produzindo cervejas de qualidade, em um teste cego onde participaram dezenas de consumidores de cervejas especiais, as três primeiras colocadas foram cervejas artesanais produzidas por homebrewers, ficando na frente até mesmo de excelentes cervejas que podem ser encontradas em lojas especializadas por todo o Brasil, como a Bamberg Maibaum e a Sauber Santo Capim. Parabéns a todos os participantes e organizadores e obrigado amigos mineiros, pelo reconhecimento, até a próxima!








quinta-feira, 30 de abril de 2015

A Cachaça é nossa! - Como fazer cachaça em casa.

"A aguardente de cana foi, em vários momentos da nossa história, a marca da Independência e da soberania da Nação. Era a bebida que unia nas conspirações libertárias, que estimulava os atos de bravura e selava as vitórias do povo. Assim, ela comemorou, nas ruas, O Grito do Ipiranga, festejou a Abolição da Escravatura, saudou a República e brindou a Nacionalidade. Nas Guerras Cisplatinas (1852) e do Paragai (1864-70), e no massacre de Canudos (1893-7), a cachaça banhou o fio da espada e foi tomada com pólvora "pr'a dar coragem" - Cachaça, prazer brasileiro, Marcelo de Nóbrega da Câmara Torres

Essa semana publiquei em um grupo de cervejeiros caseiros do facebook, uma foto da destilação de cachaça que estávamos fazendo e a publicação acabou tendo uma grande repercussão, muitos se interessaram pelo processo e muitas pessoas vieram até mim pedindo por mais detalhes, então decidi postar aqui um breve passo-a-passo do processo como alguns pediram.

Imagino que o que mais tenha chamado a atenção de todos foi o equipamento utilizado, no lugar do tradicional alambique de cobre, algo muito mais ao estilo "breaking bad", feito inteiramente de vidro e que permite que se assista todo o processo de evaporação e condensação do mosto escuro, em um líquido cristalino como água da fonte, um Alambique de Femel.
Os mais conservadores defendem que a cachaça deve ser fabricada em equipamentos de cobre, mas além de o Alambique de Femel ser mais barato que um alambique de cobre, ele é seguro. Existe uma cor
rente no mundo da cachaça que defende o fim do uso de algumas partes de cobre dos alambiques, pois o cobre adiciona à bebida substancias cancerígenas que dizem não ser eliminadas nem mesmo após a bebida passar por um filtro de carvão vegetal. Além disso, não é apenas cachaça que se pode fazer com ele, whisky, rum, calvado, brands em geral, a criatividade é o limite. 

PASSO-A-PASSO:

Materiais: 
Garapa, um recipiente para fermenta-la (balde fermentador), Alambique de Femel; duas mangueiras para entrada e saída da água que vai condensar os vapores, uma fonte de fogo, recipientes para coleta e um alcoômetro para medir o teor alcoólico e um densímetro ou refratômetro para medir a concentração de açúcares no mosto.

1.A Fermentação do Mosto
Assim como é na produção da cerveja, a mágica se inicia com a fermentação e ela é fundamental para a qualidade do produto final. O mosto da cachaça é a garapa da cana-de-açúcar que será fermentada. Na fermentação da cerveja normalmente a Densidade Inicial não ultrapassa 1.060, ou 15ºBrix (com exceção de cervejas "high gravit" e mais extremas). Com a cachaça é o mesmo, o ideal é que o mosto tenha uma concentração de açúcares abaixo de 15Brix. Dependendo da época do ano as concentrações de açúcares na cana aumentam e diminuem, se a garapa for de cana boa, colhida na época certa a concentração de açúcares pode ultrapassar os 15Brix de longe, chegando a até 23ºBrix -1.094! Nesse caso basta diluir com água até atingir a faixa de densidade desejada. 

1.1 - O Fermento

1.1.1 - Pé-De-Cuba
A versão caipira do nosso "starter" é o "pé-de-cuba". O pé-de-cuba é literalmente um starter natural, onde a intenção é multiplicar leveduras selvagens. Inicia-se o processo com uma pequena quantidade de garapa diluída até 5ºBrix e aquecida a 30ºC. A esse líquido adiciona-se fubá, quirela, farinha de arroz, limão, pedaços de cana... Não necessariamente todos esses, escolha seus preferidos.
A medida em que todo o acúcar é fermentado, deve-se adicionar mais um pouco de garapa, com o Brix um pouco mais alto que da vez anterior e assim sucessivamente, a intenção desse processo inicial é produzir leveduras o bastante para fermentar o mosto.  Quando houver fermento o suficiente, o que se dará após alguns dias repetindo esse processo, deve-se adicionar a garapa que será fermentada e depois destilada. Depois de fermentado o mosto deve ser transferido para o alambique e a "lama" do fermento no fundo do fermentador deve ser mantida para fermentar a próxima leva. 
Já deu pra perceber que a cachaça fabricada com o pé-de-cuba passa por um processo de fermentação natural, feito por leveduras selvagens encontradas nesses meios e também por bactérias. 
Muitos alambiqueiros guardam o segredo de seus pé-de-cuba às sete chaves, guardando assim a fórmula de sua cachaça. O ponto negativo do pé-de-cuba é que é grande a chance de o resultado final ser um mosto ácido e de odor não muito agradável. Desenvolver um pé-de-cuba é um processo lento que o alambiqueiro faz com muita paciência e experimentação. 

1.1.2 - Fermento Industrial
 Pode ser até mesmo o fermento de pão, mas o cervejeiro caseiro está familiarizado com centenas de diferentes cepas de leveduras, portanto pensar em um fermento para seu mosto não deve ser um problema tão difícil. Se a ideia for produzir uma cachaça diferente, criatividade não vai faltar. De qualquer forma sugiro o M-10 WorkHorse da Mangrove Jacks, que é um fermento "pau pra toda obra", serve não só para cerveja mas para qualquer tipo de fermentado e trabalha a até 32ºC, o que está dentro da faixa ideal para as leveduras selvagens da cana que também estarão presentes no mosto, trabalharem junto com o fermento. A menos é claro que você opte por pasteurizar o mosto para que apenas a levedura selecionada faça o serviço. Para uma cachaça mais autêntica, não pasteurizar o mosto e permitir que a flora selvagem ali presente também atue pode ser uma opção. 

Normalmente a fermentação da cachaça se dá em torno de 3 dias, mas cada diferente cepa de levedura tem seu devido tempo de trabalho. 

2. Destilação

2.1 Separação do Mosto
O mosto estará pronto para ser destilado logo que a fermentação houver terminado, quanto antes melhor, nada de maturação. Assim como na cerveja, uma vez que todo o açúcar for consumido, o fermento vai decantar e deve ser deixado para trás quando o mosto for transferido para o alambique. O mosto recém fermentado deve ter aroma frutado e agradável e não avinagrado e azedo A lama que sobrou pode ser usada para fermentar uma próxima leva, bastando somente adicionar o mosto com a temperatura e densidade corretas no fermentador. 

2.2 Aquecendo o Mosto

Comece aquecendo o mosto rapidamente até cerca de 50ºC, a partir daí abaixe o fogo e tenha paciência. A cachaça não leva o apelido de "pinga" a toa, a destilação é um processo lento, gota a gota o líquido cristalino vai pingando do fim do destilador. Quanto mais lentamente esse processo ocorrer, menos água será evaporada e o resultado será um início de destilação com um teor alcóolico bem alto (em torno de 70%Gl) o que vai aumentar o seu rendimento.
A medição do teor alcoólico deve ser feita por meio de um alcoômetro, que é quase idêntico ao densímetro que o cervejeiro já conhece, mas que mede o teor alcoólico no lugar dos açúcares.

2.3 A Cabeça o Coração e a Cauda
É fundamental para que o resultado final tenha bastante qualidade, que seja feita a separação dessas três porções e para isso ser possível é preciso que se saiba qual será o rendimento de sua destilação, ou seja, qual a porcentagem do mosto que será convertida em cachaça. O rendimento da alambicada vai depender diretamente da fermentação, assuma que será algo em torno de 10% do total do mosto, então se foram fermentados 5 litros de garapa você vai produzir meio litro de cachaça. 

2.3.1 A Cabeça
A porção correspondente à cabeça são os primeiros 10% do total destilado, é um líquido muito alcoólico, entre 65º-70ºGl. Essa parte deve ser descartada por conter entre outras substâncias, um pouco de metanol.

2.3.2 O Coração
O Coração é a cachaça propriamente dita e sua coleta deve se iniciar imediatamente após a retirada da
cabeça. Corresponde a 80% do total destilado. Inicialmente a graduação alcoólica será praticamente a mesma da cabeça, mas conforme a destilação for chegando próxima do fim o teor alcoólico do destilado irá gradativamente diminuindo. Quando líquido que está pingando do destilado estiver saindo com o teor alcoólico abaixo de 38%Gl, o coração acabou e o que virá agora é a cauda, que também deve ser descartada.

3.2.3 A Cauda
Os 10% finais correspondem à porção da cauda. Trata-se de um líquido aguado, com e que contem álcool superior, responsável por dores de cabeça e ressaca, por isso também não deve ficar de fora.
A cabeça e a cauda não precisam necessariamente ser descartadas, as grandes destilarias de cachaça não utilizam alambiques e sim colunas de destilação, e, não fazem a separação apenas do coração, para aumentar o rendimento utilizam tudo (um mal parecido com o da utilização de milho nas grandes cervejarias), resultando em uma cachaça de qualidade muito inferior e perfeita para causar ressacas horríveis e a longo prazo, danos à saúde. 

Portanto, se quiser aproveitar a cabeça e ao coração, faça sua coleta, guarde, e quando for destilar a próxima leva, adicione-o ao mosto já dentro do alambique. Ainda existe álcool bom nessas porções que poderão ser extraídos nessa nova alambicada e aumentar seu rendimento.

4. Filtragem - Opcional
Após a destilação há a opção de passar a cachaça em um filtro de carvão vegetal para "amaciar" a bebida. O processo, no entanto, irá amenizar consideravelmente alguns aromas e sabores característicos, então essa é uma questão bastante pessoal.

5. Descanso, Envelhecimento e Envase

5.1. Descanso
A cachaça imediatamente após destilada é uma bebida para poucos, um descanso de pelo menos alguns dias é recomendado para que se torne uma bebida mais saborosa e menos agressiva. Os especialistas defendem que a cachaça só evolui enquanto estiver armazenada em barris ou dornas de madeira, pois a porosidade da madeira permite que o oxigênio penetre na bebida e ocorram processos de oxidação, além de permitir que vapores também se desprendam da bebida e deixem o ambiente. Contudo é possível simular esse efeito mesmo se estiver guardando a cachaça em um recipiente de vidro.
O ideal é que para descansar a cachaça fora da madeira se armazene a bebida em recipientes mais largos do que garrafas, como potes de doces e palmitos por exemplo, como é feito com os moonshines americanos. Dessa maneira a área de contato com o oxigênio é maior. Também não se deve encher o recipente completamente, deixe um espaço com ar. Periodicamente abra esses potes para permitir que os vapores saiam e também que haja mais contato com o oxigênio.
Fazendo isso a cachaça vai evoluir e se tornar mais agradável.
A cachaça descansada é diferente da cachaça envelhecida, o descanso vai apesar permitir que a cachaça se acalme e se torne menos agressiva. É a cachaça pura e autêntica, sem nenhum tipo adição de aromas e sabores.
Para manter a cachaça com sua cor cristalina e seus aromas e sabores originais deve-se utilizar madeiras específicas que não transmitem nenhum tipo de característica para a bebida, apenas armazenam e possibilitam a oxidação e a troca de gases. Ou então fazer o processo descrito acima.
Um colega no grupo deu ainda a dica de armazenar a cachaça em garrafa pet. O pet seria poroso e permitiria a troca de gases. Nunca fiz dessa maneira para saber se funciona, mas imagino que um cuidado que se deva ter seria limpar muito bem até eliminar todo resquício de cheiro que costuma ficar impregnado nessas garrafas.


5.2. Envelhecimento
A cachaça envelhecida é aquela em que pelo menos parte dela passou um bom tempo (a lei pede o
mínimo de 1 ano) guardada em barris de maneira. Essa cachaça possui a cor modificada pela madeira e também seus aromas e sabores. É imensa a variedade de madeiras que podem armazenar cachaça e passar diferentes cores aromas e sabores para a bebida. É possível simular esse efeito utilizando-se de pedaços ou chips de madeira facilmente encontrados em lojas de insumos para cerveja.

5.3. Envase
Quando a cachaça estiver com os aromas e sabores desejados é hora de transferi-la para a garrafa. A partir desse momento ela vai parar de se alterar e se manterá a mesma.

Considerações finais
A cachaça é uma bebida de personalidade forte, é  muito quente é verdade, mas é saborosa, não deve ser agressiva ou desagradável. A boa cachaça, mesmo "branquinha" e sem nenhum aditivo, é delicada possui aromas que remetem a cana-de-açúcar, deve ter nuances adocicados no aroma e no sabor e claro, esquentar o peito de quem bebe, mas de uma maneira confortável, ainda que intensa. 
Segundo Câmara Cascudo, "a Cachaça aquece, refresca, consola, alimenta, alegra, revigora." É uma bebida essencialmente brasileira que quando bem feita merece o mesmo respeito que é destinado aos diversos destilados importados, muita vezes de qualidade inferior à de uma boa cachaça.

Por fim, os processos descritos na Coluna têm o intuito de auxiliar quem queira produzir cachaça e outros destilados em casa, (aproveitem, nos EUA é crime!) mas ainda é um material bastante superficial, quanto mais consulta for feita, melhor será sua bebida. Espero que façam bom uso do material e compartilhem dúvidas e experiências! 


sábado, 7 de fevereiro de 2015

A Cerveja do Presidente Obama

Os presidentes americanos vivem cercados por histórias interessantes e privilégios invejáveis; e o presidente Barack Obama sabe aproveitar muito bem dessas regalias. Para não ficar pra trás de George Washington que possuía uma destilaria de whiskey e fabricava cerveja e Thomas Jefferson que produzia vinho, Obaminha, além de receber os episódios de Game Of Thrones antes de qualquer outra pessoa do mundo para evitar "spoilers", bebe uma cerveja artesanal exclusiva fabricada na Casa Branca  especialmente para ele. 

Segundo a Casa Branca, Obama se inspirou nos milhares de homebrewers americanos que produzem sua própria cerveja em casa e decidiu que eles também deveriam fabricar sua própria breja caseira, comprou todos os equipamentos e ingredientes, contou com a ajuda de alguns homebrewers que deram uma orientação e pediu paras seus chefs trabalharem na cerveja no tempo livre.  O mais legal é que é caseira mesmo, feita em uma cozinha com os mesmos equipamentos que todo homebrewer usa, absolutamente reproduzível por qualquer cervejeiro. É inclusive bastante simples. 

O único ingrediente que da um toque de exclusividade na cerveja presidencial é o mel. Todas as cervejas do presidente levam o mel como um ingrediente importante e o que eles utilizam é produzido lá na Casa Branca. Então mesmo um americano não poderá utilizar exatamente o mesmo mel que é utilizado na cerveja, mas isso impactará em uma diferença praticamente imperceptível, pelo menos para a grande maioria das pessoas.  

As receitas foram disponibilizadas na internet e foram apenas traduzidas, eu realizaria alguns procedimentos de maneira diferente, mas entendendo como ela funciona e sabendo quais os ingredientes é o que basta para um homebrewer com certa experiência poder reproduzi-la. As receitas levam uma base de extratos de malte e poucos grãos, o que facilita a produção para quem quiser fazer exatamente como eles mandam. Eu, particularmente, se fosse reproduzi-la substituiria todo o extrato por grãos e isso deixaria a cerveja ainda melhor, mas já podemos encontrar uma boa variedade de extratos de malte a venda no Brasil então também é possível seguir a receita à risca, fica bem mais simples.



Seguem as receitas:

Ingredientes da cerveja White House Honey Ale

  • 1,5 kg de extrato de malte light
  • 450 g de extrato seco de malte
  • 370 g de malte crystal lâmbar
  • 250 g Bisquit Malt
  • 450 g de mel
  • 50 g de Lupulo East Kent Goldings 
  • 50 g Lupulo Fuggles 
  • 2 colheres de chá de gesso cervejeiro
  • 1 pacote de fermento seco Windsor
  • ¾ xícara de açúcar de milho para o priming

Modo de preparo da cerveja White House Honey Ale

  1. Em uma panela, coloque os grãos em 1,5 litros de água estéril a 68 graus. Deixe por meia hora e depois, retire os grãos.
  2. Adicione as duas latas de extrato de malte e extrato seco e deixe ferver.
  3. Para o primeira lupulagem, adicione a  50 g East Kent Goldings e 2 colheres de chá de gesso. Deixe ferver por 45 minutos.
  4. Para o segunda lupulagem, adicionar os 20 g de Fuggles perto dos 15 minutos finais de fervura.
  5. Adicione o mel nos 5 minutos finais de fervura.
  6. Coloque 2 litros de água gelada estéril no fermentador primário e adicione o mosto quente. Cubra com mais água para o total de 5 litros.
  7. Deixe fermentar à temperatura ambiente cerca de 7 dias
  8. Passe para um fermentador secundário, e deixe fermentar por mais 14 dias.
  9. Para engarrafar, dissolva o açúcar de milho em 2 litros de água fervente por 15 minutos. Despeje a mistura em um balde de engarrafamento vazio. Sifão a cerveja do fermentador por cima. Distribua uniformemente o açúcar priming. Deixe descansar de  duas a três semanas em temperatura ambiente.

Ingredientes da cerveja White House Honey Porter

  • 1,5 kg de extrato de malte sem lúpulo
  • 320 g de Munich Malt
  • 450 g de malte crystal 20
  • 168 g de malte black
  • 84 gramas de malte chocolat
  • 450 g de mel
  • 10 HBU** de amargor de lúpulo
  • 20 g de lúpulo com aroma Hallertaur
  • 1 pacote de fermento seco Nottingham
  • 3/4 xícara de açúcar de milho para o engarrafamento

Modo de preparo da cerveja White House Honey Porter

  1. Em uma panela, adicione os grãos para 2,5 litros de água a 75 graus. Misture bem e baixe a temperatura para 68 graus. Deixe a mistura no fogo por 45 minutos. Enquanto isso, esquente dois litros de água a 75 graus, em uma panela grande.
  2. Coe a mistura e depois, acrescente dois litros de água quente.  Descarte os grãos e leve a mistura para o fogo.
  3. Adicione as 2 latas de extrato de malte e mel no pote. Mexa bem.
  4. Deixe ferver durante uma hora. Adicione metade do amargor de lúpulo na marca de 45 minutos para o final da fervura, a outra metade deverá ser adicionada aos 30 minutos. Quando já estiver perto da marca de uma hora de fervura, acrescente o aroma de lúpulo.
  5. Separe e deixe descansar por 15 minutos.
  6. Pegue 2 litros de água gelada e adicione o fermento seco. Depois, junte o mosto quente. Se necessário, cubra complete até chegar à marca de 5 litros. Colocar num banho de gelo para que a temperatura baixe para 23 graus.
  7. Deixe fermentar à temperatura ambiente de 3 a 4 dias.
  8. Para engarrafar faça uma mistura no fogão com uma xícara de água estéril e ¾ de uma xícara de açúcar priming. Deixe ferver por 5 minutos. Despeje a mistura na cerveja fermentada, coloque o líquido em garrafas e deixe descansar por uma ou duas semanas a 23 graus.
*O amargor da cerveja geralmente é medido em IBU que significa International Bittering Units, outra medida usada é o HBU que significa Homebrew Bittering Units. 1 HBU é definido como 28 gramas de lúpulo com 1% de alfa ácido. Não existe uma relação matemática entre IBU e HBU.


Nunca antes havia sido produzido algum tipo de álcool nas dependências da Casa Branca, os outros presidentes citados faziam seu goró em outras regiões dos EUA, mas o mais legal de tudo na minha opinião é o fato de o presidente Obama pedir que a cerveja fosse produzida exatamente da mesma maneira que os homebrewers americanos fazem.
Se alguém já fez ou fizer, deixe os resultados aqui ou, melhor ainda, manda uma garrafinha pra cá!


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Budweiser ataca Cervejarias Artesanais e é Retaliada.

Quase todo mundo sabe que o intervalo publicitário mais valioso da Televisão Mundial acontece durante o Super Bowl nos EUA. Enquanto os grandes campeões das principais ligas de Futebol Americano do país se enfrentam em campo, na televisão são exibidos os comerciais mais caros da história. E a famosa cervejaria americana Budweiser (do grupo InBev) é conhecida pelas grandes produções publicitárias que costuma lançar durante a ocasião, esse ano, porém, a empresa surpreendeu negativamente ao exibir um comercial atacando as Cervejas Artesanais.

Confira o vídeo:

O comercial é malicioso desde o princípio: o vídeo se inicia com imagens de malte de cevada e lúpulo em flor, acompanhados dos dizeres: "Budweiser, orgulhosamente uma Macrocervejaria". Até aí tudo bem, ninguém deve se envergonhar de ser um gigante do setor, mas "curiosamente" não exibiram nenhuma cena dos grãos de arroz que são utilizados na produção de uma Bud. Quem orgulhosamente utiliza apenas Malte e Lúpulo na elaboração de suas cervejas são as MICROcervejarias e não as Macro. Mas essa distorção da realidade com relação aos seus produtos não é novidade em se tratando de propaganda de grandes marcas de cerveja. 

O que se segue, porém, não é mais uma tentativa de cativar o público ou mostrar que possuem um produto diferenciado e sim um ataque direto ao CONSUMIDOR de cervejas artesanais. As próximas cenas mostram alguns "Hipsters" degustando cervejas variadas em diferentes copos em meio aos dizeres: "Nossa cerveja não é fabricada para ser mimada" e "Fabricada para ser bebida e não dissecada", em uma clara crítica ao costume que os consumidores de cervejas artesanais possuem de analisar a cerveja em seus mais variados aspectos, começando pela aparência, depois aroma e só então levando a bebida à boca. E continua: "As pessoas que bebem nossa cerveja são pessoas que gostam de beber cerveja". 

Esse hábito de apreciar a cerveja ao invés de simplesmente engoli-la aos litros não deriva do fato de o consumidor de cervejas artesanais ser um "hipster fresquinho", isso ocorre porque as cervejas que bebemos são bonitas, possuem colorações e tonalidades das mais variadas e são extremamente aromáticas e saborosas. Ninguém faz isso quanto bebe uma Budweiser ou uma Brahma porque não há nada novo a ser apreciado ali, elas sempre são iguais na aparência, não tem aroma nenhum e nem gosto. Servem apenas para matar a sede e embriagar. Ao contrário do que sugere o comercial, quanto mais uma pessoa gosta de beber cerveja, mais essa pessoa irá procurar por estilos e sabores variados e não viver empacado em uma única marca que é quase igual a todas as concorrentes.

O vídeo continua com os dizeres "Fabricada à maneira mais difícil", o que é uma incoerência sem fim, pois quem faz cerveja "brewed the hard way" não é a InBev, que possui fábricas enormes e equipamentos automatizados de última geração, cerveja feita à maneira mais difícil é a cerveja brassada pelas pequenas cervejarias que se utilizam de processos artesanais e a presença do cervejeiro é fundamental em todos os pontos da produção.

E finalmente o último e mais infeliz ataque aos bebedores de cervejas artesanais, enquanto são exibidas torneiras de chopp de variados estilos de cerveja aparecem os dizerem: "Deixe-os sorverem suas cervejas de abóbora e pêssego". São tantas contradições nessa frase que dá até pra se perder. Primeiro os americanos têm orgulho de suas Pumpkin Ales (cervejas com abóbora) comemorativas lançadas normalmente apenas perto do Halloween e segundo porque a última aquisição do grupo foi a Elysian Brewing, uma microcervejaria que produz exatamente esse estilo de cerveja!

No meio da confusão toda aparecem também os dizeres "Esta é a única cerveja", "Só há uma Budweiser" e "Esta é a famosa Budweiser Beer". Se esqueceram no entanto de mencionar que o nome Budweiser foi roubado de uma cervejaria da cidade de Budvar na Republica Tcheca, a primeira e autêntica Budweiser, de quem a americana surrupiou o nome, registrando a marca nos EUA antes que a cervejaria tcheca o fizesse.

O comercial tem gerado enorme repercussão, não se fala em outra coisa no cenário cervejeiro mundial e as pessoas estão tomando partido. Obviamente entre as Microcervejarias americanas o vídeo não foi muito bem visto e elas não perderam tempo em contra-atacar a gigante cervejeira. Até mesmo algumas brasileiras estão respondendo.

As respostas que você também confere aqui no Blog vieram em forma de imagens e vídeos que seguem o estilo do comercial milionário, A Abita Brewing e o Hopstories fizeram estes vídeos:


o vídeo possui frases como "Não somos um cachorrinho de exibição" (provavelmente uma alusão ao comercial da Budweiser no Super Bowl do ano passado, em que o personagem principal era um filhotinho de cachorro. ) e "Sim, nós fazemos cerveja de abóbora e pêssego e é uma delícia", "Nós não fazemos apenas um estilo de cerveja" "Nós fazemos cerveja para se beber, degustar e aproveitar".


Tradução: "Cerveja Artesanal, orgulhosamente produzida por pessoas. Não é produzida para ser repreendida, é produzida para ser apreciada, é a única cerveja cheia de sabores. Existem muitas Cervejarias Artesanais, cada uma delas oferece sabores únicos. Apenas a Cerveja Artesanal é produzia a mão, a verdadeira "maneira difícil". Nós vamos saborear nossas centenas de estilos, continue empurrando o seu único. A cerveja artesanal é nova, é excitante e chegou para ficar. Beba uma artesanal".


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A Cervejaria Mikkeller enviou uma carta sensacional para a Budweiser para que a Ambev compareça ao Copenhagen Beer Celebration que acontecerá dias 1 e 2 de maio de 2015 em Copenhagen. A carta segue na íntegra, mas basicamente o texto diz que a Mikkeller é uma pequena cervejaria da Dinamarca e que eles viram o comercial no Super Bowl mas que nunca olharam para a Budweiser como uma oponente ou um competidor direto e que eles apreciam as diferenças na comunidade cervejeira, mas que o comercial passou a impressão de que algo mudou e que talvez fosse uma boa ideia eles se reunirem para poderem se entender melhor. Na sequência o texto explica como funciona o evento, dizendo que cada cervejaria convidada leva algumas cervejas especiais, aquelas de que eles mais se orgulham e sugere que a ImBev leve um lote especial envelhecido da sua cerveja de abóbora e pêssego chamada Elysian que provavelmente faria bastante sucesso na Europa já que é um estilo que não se encontra por lá e é tão popular na América, mas adverte que não podem levar nenhum tipo de cartaz ou propaganda, é um evento apenas para cerveja, que haverão mais de 40 cervejas diferentes e esperam que eles aceitem o convite pois será muito prazeroso. Um belo tapa com luva de pelica, não?





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A Miller Coors, uma Macrocervejaria, divulgou essa imagem também em resposta ao comercial, onde dizem acreditar que todas as cervejas devem ser "mimadas" pois apenas assim é possível produzir verdadeiras obras primas, e cita seus rótulos descrevendo-os. Continua dizendo que qualidade não é exclusividade de apenas um estilo de cerveja ou de uma cervejaria, é algo que pertence a todas as pessoas que se comprometem em produzir e distribuir de maneira consistente as melhores cervejas do mundo, que eles acreditam que estão cumprindo com esse compromisso com todos os seus rótulos e estilos. E que certamente eles sabem que não são as únicas pessoas apaixonadas produzindo cervejas de grande qualidade, que produzir qualquer cerveja é um ofício e que quando bem feito deve ser respeitado.
Vá em frente, mime-a e disseque-a; nossa cerveja é feita do jeito difícil.
"Produzida à maneira apaixonada" - a brasileira Bamberg também respondeu.



A minha opinião é de que isso tudo é muito divertido de se acompanhar e agora está mais do que provado que as cervejarias artesanais estão causando medo nas gigantes do setor. Alguns ainda estão dizendo que está se fazendo muito barulho por pouca coisa, mas ainda assim achei o comercial desrespeitoso, não faz o menor sentido atacar o consumidor de cervejas artesanais, até porque a imensa maioria deles também consome as cervejas populares - e bem feliz - em várias ocasiões, apenas temos a consciência de que existem inúmeros outros estilos de cerveja que são muito mais complexos e gostosos de se beber. De maneira arrogante o comercial desrespeita não só os consumidores como todas as cervejarias artesanais, desmerecendo o cuidadoso trabalho que é realizado de maneira verdadeiramente apaixonada por essas pessoas. O Império está se sentindo incomodado, viva a Revolução Cervejeira!































quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Era Jesus um Cervejeiro?

Toda religião é cercada por mitos e rituais que nem sempre -quase nunca- correspondem fielmente à realidade, e, com o cristianismo, não seria diferente. O próprio Natal é um exemplo disso, comemoramos o dia 25 de dezembro como sendo a data do nascimento de Jesus, o que não é verdade. Já é consenso entre os estudiosos do Novo Testamento e da origem do cristianismo, que Jesus não nasceu no dia 25 de Dezembro. Na realidade, no dia 25 de dezembro já era comemorado pelos romanos o "Natalis Solis Invicti" ("nascimento do sol invencível"). Era uma festividade pagã destinada ao deus Mitra, um deus Persa muito popular em Roma, que acontecia no solstício de inverno. Até por volta do século IV os romanos eram pagãos, os cristãos eram poucos e perseguidos. O Imperador Constantino, porém, se converteu ao cristianismo, elevando o status da religião, e, para facilitar a assimilação da nova religião oficial e ao mesmo tempo "extinguir" a comemoração pagã, os romanos se aproveitaram da data que já era comemorativa e a "cristianizaram", a primeira comemoração do nascimento de Jesus em 25 de Dezembro se deu no ano de 354 d.C., mais de trezentos anos depois do nascimento e da morte do cara! Uma vez que a data exata de seu nascimento será para sempre um mistério, particularmente acredito que a escolha foi ótima, de uma certa forma continuamos até hoje a louvar o Sol, que é mais do merecedor de uma data comemorativa. 

Mas a motivação dessa postagem não é descobrir quando Jesus nasceu, muito mais nobre e polêmica, nós queremos é descobrir o que Jesus bebeu! O cineasta, ilustrador, músico e escritor português Afonso Cruz lançou há um par de anos um romance chamado "Jesus Cristo bebia cerveja". Na obra em questão, a personagem principal, Rosa, quer realizar o desejo de sua avó de conhecer Jerusalém, porém a neta não pode leva-la até lá e decide então trazer a Cidade Santa até a velha, para isso ela contará com a ajuda do professor Borja, um erudito que decide ajudar Rosa a recriar Jerusalém com uma condição: precisão histórica e fidelidade a detalhes importantes, dentre eles está o fato de que Jesus bebia cerveja e não vinho!

No livro o professor Borja é taxativo ao dizer: -"O que se bebia no espaço geográfico em que Cristo habitava era cerveja. O vinho era uma bebida de romanos, dos invasores. Cristo não iria beber a bebida dos ricos, dos opressores”. -Ainda que seja uma afirmação capaz de causar surpresa em muitos, este detalhe do livro não é mera liberdade artística, ele se baseia em estudos históricos e na realidade é inclusive bastante lógico. A produção de cerveja sempre esteve associada com a do pão, justamente por seus ingredientes serem os mesmos: trigo e cevada. E o pão era a base da alimentação na época e na região onde Jesus viveu, que não era produtora de uvas, seguramente ali também se produzia cerveja. Temos que nos lembrar de que a cerveja nessa época não era bebida com as mesmas finalidades com que a bebemos hoje, além de alimentar ela era uma fonte segura de hidratação (havia muita água contaminada), uma vez que era fervida em sua produção e por possuir álcool, ainda que em proporção bem inferior à das nossas cervejas. Estima-se que o teor alcoólico atingisse no máximo 3% devido à fermentação espontânea e incompleta. Essa fermentação incompleta também a deixava mais nutritiva. 
                
A importância da cerveja como fonte de hidratação na antiguidade era tamanha que durante a idade média na Europa, uma cidadezinha da qual não me recordo o nome, escapou quase ilesa da peste negra porque seu senhor feudal, esperto pra chuchu, decretou a proibição do consumo de água, substituindo-o pelo de cerveja. Como resultado a transmissão da doença diminuiu muito e a cidade pôde sobreviver à epidemia sem maiores danos. 
              
Mas voltando à época de Jesus, a cerveja seguramente era produzida e consumida, não como uma bebida alcoólica mas como alimentação diária e uma maneira segura de se hidratar. 

              
O vinho era a bebida dos romanos, povo que dominava a região, era de fato a bebida dos ricos e dos opressores, que por se considerarem superiores ao povo dominado, consideravam também sua bebida superior, repugnando a cerveja e colocando-a em uma posição inferior à do vinho, era a bebida dos bárbaros e selvagens ao passo que o vinho era a bebida das pessoas civilizadas. Segundo os romanos a cerveja era “um suco malcheiroso de cereal putrefato” que diziam causar mal hálito. 
                
Compreendendo todo esse cenário fica difícil imaginar como e porque Jesus optaria pelo luxo de beber vinho no lugar da cerveja. Primeiro porque não era nobre, era um judeu pobre como tantos outros que não possuíam condições e nem o hábito de consumirem vinho. E segundo porque seria uma atitude totalmente incoerente com sua filosofia e suas atitudes. 
                 
Por outro lado, para os romanos não era nada atrativa a ideia de um deus que bebesse cerveja no lugar de seu adorado vinho e depois de Constantino se tornar cristão, o resto dos romanos, que até então perseguiam os cristãos, também deveriam seguir o mesmo caminho. E eles, assim como os gregos, possuíam uma relação muito longa e profunda com o vinho, haviam deuses dedicados ao vinho que ainda eram cultuados e precisavam ser aos poucos esquecidos e substituídos por apenas um novo deus. Assim como os romanos extinguiram uma festividade pagã que comemorava o nascimento do Sol, substituindo-a por uma festa cristã de celebração ao nascimento de Jesus, substituíram também a bebida de Jesus pela sua bebida, criando assim um Ser muito mais "interessante" aos olhos romanos.
                

Nessa época o cristianismo era difuso, existiam vários grupos cristãos e suas crenças não eram exatamente iguais. No ano de 325 d.C., o Imperador Constantino reuniu os mais influentes bispos cristãos no famoso Concílio de Nicéia, uma reunião que deveria acabar com aquela bagunça e definir quais seriam as doutrinas oficiais do cristianismo. Foram vários os assuntos discutidos e definidos, entre eles, quais dentre os inúmeros livros que tratavam da vida de Jesus seriam considerados oficiais pela igreja. Política e Religião sempre se confundiram e prevaleceram os interesses dos Cristãos Apostólicos Romanos. Depois de selecionados os livros, os mesmos, que muitas vezes já vinham de traduções feitas por outros povos e já possuíam alguns erros, foram traduzidos para o latim pela Igreja Romana e sofreram algumas modificações, algumas acidentais em função do idioma, outras um pouco mais convenientes, Jesus beber vinho
 era não somente mais atrativo para o povo romano, como foi também uma baita jogada de marketing uma vez que Roma era produtora da bebida.


O primeiro milagre de Jesus, a transformação de água em vinho nas Bodas de Canaã, afirmam os historiadores que teriam sido os gregos responsáveis por um engano que perdurou por milênios. Os escritos originais possuíam uma expressão que significava "bebida forte" e que teria sido traduzida primeiramente pelos gregos como "vinho". Maurício Beltramelli ensina em aula que tive o prazer de assistir e também em seu livro "Cervejas Brejas e Birras" que até hoje em muitos colégios alemães esse milagre é ensinado aos alunos de maneira diferente da que conhecemos. Lá eles ensinam que a água teria sido transformada em cerveja e não em vinho! O que também faz muito sentido, sendo o vinho caríssimo na época e o casamento em questão, uma festa simples de pessoas humildes que não teriam condições de bancar fartas quantidades de vinho. 

Outro ponto interessante e ainda mais polêmico diz respeito à seita Nazarita. Quem fazia o voto de nazireno deveria deixar o cabelo crescer, evitar bebidas e alimentos provenientes da uva, não consumir bebidas fortes e não tocar em cadáveres. João Batista, primo de Jesus, é o último nazireno de que se tem registro na Bíblia, mas há quem defenda que Jesus também teria feito o voto de nazireno, o que explicaria o cabelo comprido e o consumo de cerveja, uma vez que esta não era uma bebida muito forte na época, tampouco era feita de uva. A proibição de tocar em cadáveres é o ponto mais polêmico dessa afirmação, se Jesus de fato tivesse feito o voto de nazireno, ou ele não estava lá muito preocupado com o juramento e seguiu ressuscitando os mortos, ou nunca houve milagre assim. 
             
Apesar de ser esta uma questão que provavelmente jamais será resolvida com certeza, se analisarmos todo este cenário torna-se bastante coerente pensar que Jesus, de fato, provavelmente bebia cerveja e não vinho. Além de ser a cerveja comprovadamente produzida e consumida naquela região e o vinho ser uma bebida estrangeira, cara e consumida pelos opressores, o cara era cabeludo, gente boa e cheio de idéias avançadas, faz muito mais o perfil de um cervejeiro do que dos esnobes bebedores de vinho, não?